Mercador de Livros Malditos de Marcello Simoni, muito idêntico este livro ao anterior deste autor, A Abadia dos Cem Pecados, movimentado, passado na idade média, o que é sempre uma época fascinante com as traições, lendas, perseguições, enigmas, lutas, desaparecimentos, mortes, fugas, segredos, enfim um incontável número de situações que prende até ao fim, fim esse que surpreende sempre um pouco. (4)

O Livro Negro da Inquisição de Natale Bennazi Matteo D'Amico, livro que considero muito bem escrito sobre a história sempre obscura e negra da igreja com a criação da inquisição e dos crimes sem nome por ela cometidos. Um rol de casos que identificam a promiscuidade, a mesquinhez, a pequenez, a crueldade que presidiu sempre a julgamentos em que não há a presunção da inocência, mas, sim, a presunção da culpabilidade. Ainda existe inquisição nos nossos tempos? Sim, mas silenciosa e pouco clara. Nomes a reter nesta lista pintada a negro pela Igreja, Galileu, Giordano Bruno, Joana D'Arc, Miguel Servet.....do lado negro da história, salta o nome tenebroso de Torquemada! (4)

A Fome de Alma Katsu, uma terrível epopeia verídica no oeste americano, brilhantemente descrita. O desafio do desconhecido, sob inúmeras contrariedades, a fome, a sede, o clima, a desconfiança, os dramas que vão acontecendo, o medo subsequente, a imaginação que leva ao delírio, ao transtorno psicológico, ao isolamento, à morte desesperada para fugir da morte lenta e sofredora....um modo também excelente de colocar perante os nossos olhos, as emoções que surgem em situação limite. (4)

Calibre 22 de Rubem Fonseca, livro deveras interessante na linha dos anteriores, linguagem forte sem pudores, diferente porque são várias histórias com finais inesperados ou mesmo que sejam os aguardados, são contados de maneira cheia de encanto e mestria. Um escritor experimentado. (4)

Cebola Crua com Sal e Broa de Miguel Sousa Tavares, uma autobiografia com a qual me diverti imenso, devorei este livro em três dias, porque tudo o ajudou a fazê-lo, a maneira como está escrito, obviamente, o humor sempre presente, o nos fazer recordar daquilo que de uma maneira outra também passámos, com as diferenças de oportunidades e seguramente de local, feitio, possibilidades! Uma história bem contada e que fica, sem dúvida, na memória, mas por dois motivos principais, porque é de alguém que acompanhamos do jornalismo e da vida pública, e nas suas opiniões, nem sempre coincidentes com as nossas, mas sempre lúcidas e de maneira tranquila, aberta, sarcástica e sem prestar vassalagem a ninguém. (4)

Os Cento e Vinte Dias de Sodoma de Marquês de Sade, deplorável, pode realmente estar bem escrito, não ponho em causa, mas o que é descrito com pormenores, é uma devassidão total, um deboche, um atentado ao mínimo justificável no ser humano! Também não ponho dúvidas que, possam existir orgias, sodomias parecidas ou mesmo iguais, mas quando interrompi a leitura, já me metia repulsa, sobretudo o facto de incluir crianças na estória. Chegou, bastaram 300 páginas iguais. (1)

 

Pensamento

Olha os meus olhos morena, Porque a aventura é ficar, Se a minha terra é pequena, Eu quero morrer no Mar.

Lençóis de algas e peixes, De barcos a menear, No dia em que tu me deixes, Eu quero morrer no Mar.

E se o teu negro é a tua cor, Respirando devagar, Depois do amor meu amor, Eu quero morrer no Mar.

 

O Desaparecimento de Stephanie Mailer de Joël Dicker, suspense, suspense, suspense...é este o melhor título para resumir este livro, leva-nos o autor por pistas desde os crimes até ao desfecho final, que nos proporciona um passeio de cortar a respiração durante mais de 650 páginas. Desde o início até à última linha não pode nem se deve perder pitada de um argumento fantástico com personagens notáveis. (4)

O Processo de Franz Kafka, o esperado por ouvir falar, o deixar a nu a justiça inócua, impune sobre os cidadãos comuns, que ficam sem saber porquê, quando, como foram indiciados. Brilhante, extremamente contundente a maneira pormenorizada como este romance transmite a ideia de como somos frágeis perante os desígnios de quem setencia, de quem acusa. O desnorte, o isolamento, a sensação da perda, a vida adulterada que as pessoas sentem são medonhos. (4)

O Fogo será a tua Casa de Nuno Camarneiro, autor a reler certamente, inovador na escrita, chega a tocar o brilhantismo na integração dos diálogos, histórias e descrições. Humor, clareza, assertividade, num livro de factos que aconteceram. Livro actual, em que as religiões, o isolamento, a clausura, as diferenças culturais, de género, de origem são colocadas frente a frente. A coragem ou a falta dela, igualmente muito bem abordada. Livro que me fez lembrar um de EE Cummings, sobre um tema idêntico, a prisão sem motivo em conjunto num espaço limitado. (3) 

O Leitor de Bernard Schlink, bate, bate coração, livro que nos faz pensar, atinge-nos o coração tal é a fragilidade do ser humano. Como nós vemos e como sentimos, diferenças, o amor, a entrega incondicional, a verdade nua que magoa, a mentira que nos assola, a dúvida que nos prende até ao fim da última página deste livro que nos sugere como nós somos e não queremos ser. (4) 

Um Homem Inquieto de Henning Mankell, livro de literatura nórdica, um policial que junta um pouco de Camilla Lackberg, um pouquinho de Lars Kepler, mas é, obviamente, diferente, mais ideológico, envolve teorias da conspiração, espiões da guerra fria, implicações familiares com ligações ao inspector, personagem do livro, Kurt Wallander. Memórias do passado, medo do futuro, adaptação ao presente. Medo da morte, luta pelo profissionalismo. (4) 

Um Anjo Impuro de Henning Mankell, o desenrolar lúdico e temperado de uma história, baseada num facto real e o resto de cariz ficcionado. Vamos deslizando ao longo do livro que nos leva do frio glaciar da Suécia até ao calor tórrido de Lourenço Marques, a odisseia de Hanna, mais tarde Ana, depois de novo Hanna, fugindo da pobreza sueca do início do séc.XX até à triste realidade da miséria africana, da supremacia dos brancos, que ninguém convidou, sobre os negros. Tudo roda à volta dos pensamentos da personagem principal, porque, livre ou não, possui uma indecisão constante do que fazer, de como se comportar numa sociedade esclavagista e colonial. Dores pessoais e dos outros, a aprendizagem de como o racismo é de uma impureza humana de grandes dimensões. (4)

Pensamento

Quando não se tem aquilo que se gosta é necessário gostar-se daquilo que se tem.

Eça de Queirós

O Último Papa de Luís Miguel Rocha, grande suspense que mistura ficção com realidade, relacionado com o desaparecimento precoce do papa João Paulo I, sempre mal e superficialmente descrito, como é evidente tornou-se de um assassinato motivado por pessoas levadas pelo ódio, corrupção, lavagem de dinheiro, traição, tudo menos o que os devia prender, a religião, o Vaticano. Com a intervenção de uma jornalista portuguesa juntamente com um um ex-infiltrado na lojas maçónicas P2, com muito sangue, fugas, tiros, explosões pelo meio, conseguiram esconder a documentação tão procurada que continha nomes e causas realizadas ilegitimamente. Máfia e bancos, logo dinheiro, muito dinheiro, causa directa da tantos assassínios perpetrados. (4) 

Quarenta dias sem Sombra de Olivier Truc, assombroso e acima das expectativas de um policial nórdico, excluindo os de Camilla Lackberg, lá estou eu. Mais do que um policial é de tal modo emocionante pela maneira como descreve as fissuras existentes entre culturas autóctones, os Samis/Lapões neste caso com as evoluções que não têm em conta esses valores, um enredo a correr em movimento rápido em que nos é demonstrado uma das partes obscuras do mundo que muito poucos conhecerão. (4) 

Mendigos e Altivos de Albert Cossery, magnífico livro com um conteúdo repleto de diálogos e pensamentos acerca da mendicidade, mas mendicidade por opção, voluntária, a opção das pessoas cultas mas que preferem a altivez e o atingir da paz, ao recusar todas as benesses que o mundo moderno lhes oferece. A diferença de entendimento que existe no pensamento das pessoas torna-se impressionante na realidade. Neste livro de Cossery, as pessoas que consideramos habitualmente como normais, comuns, ficam subjugadas com este despojamento. (4)

As Três Vidas de João Tordo, uma surpresa agradável, sem dúvida um livro lido com muito gosto e num ápice.Baseado num argumento, numa ideia genial, em como se pode ter mais de uma vida na Vida. A vida transversal de um rapaz, desde a sua pós adolescência até à idade adulta, idade madura com filhos, com as suas contrariedades, conhecimentos, novas emoções, estranhos acontecimentos, segredos insondáveis, uma vida de altos e baixos de grande intensidade emocional e física. Sonhos e pesadelos em paralelo. A juntar a isso, numa resenha, uma visão sobre história, as mentiras dos "ismos", fascismo, comunismo, espiões, enfim uma literatura cheia de suspense e emoção. (4)

A Boneca de Kokoschka de Afonso Cruz, várias histórias numa ou uma história em várias....pula-se de uma para outra com uma linha condutora, que nos traz com humor e uma descrição harmoniosa, apesar da história ser triste e cheia de desencontros de uma forte emoção. Consegue-se acompanhar com interesse, não obstante a história ser sacudida por intermitências constantes no tempo e no espaço. Final triste como a história em si, mas abrindo uma pequena porta de esperança. Há sempre uma janela apesar das vicissitudes e das perdas ao longo de uma vida. (3)

Tu não és como as outras Mães de Angelika Schrobsdorff, eis um livro dificilmente esquecível, um turbilhão de emoções, o amar, o pensar que não fiz tudo ao meu alcance, ao mesmo tempo que se julga que nos superamos. A guerra, o obstáculo causado pelas religiões para relacionamentos profundos ou apenas de amizade. O amor entre filho e mãe, a instabilidade causada pelas paixões, o viver mimado versus o viver no limite do nada. A fuga, o deconhecimento, a doença, o pânico ou simplesmente o medo diário. A pátria boa ou detestável. O choro, a gargalhada, o fim, o início. Comovente. (4)

 

Pensamento

Não te rendas, por favor não cedas, mesmo que o frio queime, mesmo que o medo morda, mesmo que o sol se esconda, e se cale o vento, ainda há fogo na tua alma, ainda há vida nos teus sonhos.

Mario Benedetti

Um pequeno comentário marginal, mas importante neste ponto do blogue. Perguntam os meus amigos visitantes, tanto livro lido? Oh Luís fica-te algo de cada um? Posso responder que de todos fica qualquer coisa, o mais importante é crescer aprendendo, cultivando, conhecendo, viajando, sim meus amigos, viaja-se imenso pelas páginas de um livro, viaja-se de local em local, de sonho em sonho......vive-se. Em alguns livros entramos neles, e não nos deixam ao longo do tempo, noutros ficam referências, noutros aprendizagem, noutros divertimento, noutros TUDO. Memórias inesquecíveis em muitos deles, pormenores em muitos outros.....sabe bem......Acontece amiúde fechar um livro e o que acabámos de ler, voa , penetra, faz-nos pensar e até agir.....mas nós somos Nós.

Cara ou Coroa de Jeffrey Archer, livro com três indicadores que sobressaem, primeiro a descrição do que um regime sem liberdade como era o soviético, conseguia anular quem se atravessava no caminho e acabava por obrigar, debaixo de riscos enormes, a fuga de quem o conseguia fazer in-extremis. Segundo, a demonstração que a fuga para países democráticos, colocam-nos perante duas hipóteses, de modo muito eficaz, ou Inglaterra ou EUA, cujo resultado, apesar de ser feliz em grande medida, acaba por ser vivido em sistemas de capitalismo competitivo e vividos em sobressaltos e desigualdades constantes. Terceiro, o retorno fatal, nas duas hipóteses igual. Nada muda, os sonhos imolam-se. (3)

Uma História Antiga de Jonathan Littell, brutal, dantesco, sádico, erótico, pornográfico, violento, sarcástico, sangrento, eis um livro que descreve de um modo grotesco, insensato, de uma violência indescritível, a mente de um ser humano que "corre" ao longo de um corredor (imaginação) e entra periodicamente em portas que o levam a locais profanos, a lugares de guerra desumana e sem sentido, a transformações de género ou de adulto para criança numa miríade de sensações que nos oprimem os sentidos e nos agarram de modo violento e opressivo. (3)

A Cabana de Paul Young, pode ser que se possa gostar desta mensagem de crença em algo que não existe, ter fé para justificar o injustificável. Perante factos terrivelmente traumáticos, tudo, imaginativamente, se transforma, para levar luz onde há dúvida. Demasiado espiritual para meu gosto. (1)

Fora de Si de Sasha Marianna Salzmann livro basicamente geracional, descrição pungente das diferenças entre gerações, diferenças de género, diferenças de pensamento, de culturas, de religiões e de tudo o que daí advêm. Um acompanhamento nem sempre fácil de seguir, por causa, sobretudo dos relacionamentos sexuais, homo ou hetero. Fica-se no final, com a sensação que, realmente o tempo e o local têm uma influência fundamental na formação das personalidades de cada qual. (3)

Assimetria de Lisa Halliday, o termo exacto para o que transparece deste livro, a lei dos contrários, aproximação entre idades diferentes, conflito entre mentalidades opostas, oposição entre mundos com futuros radicalmente diferentes. Como se pode, no fundo, aliar ou então alienar tal diferença, para onde nos aproximamos mais? Para a junção? Para o afastamento? (4)

Hipátia de José Carlos Fernandez, filosófico de mais, muito pensamento extra humano, deuses versus deus. Pode ser que seja bom, li apenas na diagonal. (2)

Pensamento

Livro é tão bom que devia ser elogio. Tipo, "você é tão livro".

O dia em que perdemos a cabeça de Javier Castillo, mesmo de perder a cabeça, uma estória definitivamente arrepiante, na qual junta morte, desespero e crenças que levam a situações de pesadelo, matar porque se sonha, matar porque tem que ser, matar porque se é vitima de chantagem, violentamente! (3)

A Grande Solidão de Kristin Hannah, muito forte, descreve com violência como se pode tornar um sonho em pesadelo. Assim, um casal com uma filha arriscam, para fugir do bulício das grandes cidades, sobretudo por causa de um forte stress pós-traumático devido ao que se passou na guerra do Vietnam, uma fuga para um sítio mais isolado dos sítios isolados com um clima agreste numa povoação isolada do mundo, no Alasca. As coisas estão longe de correrem bem, devido aos pesadelos recorrentes derivados da guerra que implicam maus tratos infligidos à mulher e filha, violência doméstica, tanto a mãe e sua filha tinham o apoio dos autóctones, mas era insuficiente. Tudo descambou com a morte do personagem, morto pela mulher, e tudo o que daí adveio, a fuga, mortes, acidentes.....a solidão, o afastamento, sempre presentes, até que no final, apesar de tudo feliz, unem-se as pessoas que tanto sofreram devido à loucura diária. Leni e Mathew....juntos. (4)

Três Irmãs, Três Rainhas de Philippa Gregory, Catarina de Aragão, rainha de Inglaterra, mulher de Henrique VIII, Maria, rainha viúva de França, Margarida, rainha regente da Escócia, estas duas, irmãs de sangue, filhas de Henrique VII e Isabel York, foram autênticas rivais, amigas, amaram-se, odiaram-se. A história que, é contada na primeira pessoa por Margarida, demonstra, nomeadamente, as traições, as vidas nas cortes, os casamentos por interesse, as lutas incessantes pelo poder, as guerras torcionárias, sangrentas...um fim do séc.XV e uma primeira metade do séc.XVI, extremamente marcantes na história da Inglaterra, mas desta feita, vista pelos olhos da oscilante/rival, Escócia. (3)

Os Blumthal de José Milhazes, as ditaduras em discurso directo, a comunista (Staline) e a nazista (Hitler), duas faces da mesma moeda, a prepotência, a desconfiança, o genocídio. Assiste-se, neste livro, a pessoas ligadas ao jornalista/escritor, que sofreram horrores de ambos os lados da barricada. Morreram física e emocionalmente. O séc.XX que podia ter sido uma lição, mas infelizmente, os extremismos estão aí de novo à porta. (3)

A Mulher que correu atrás do Vento de João Tordo, um romance geracional, sonhador, somos todos tão diferentes em épocas tão diferentes, mas existem imensas coisas que se repetem, amores que não se demonstram, ódios que não se manifestam. Faz bem rememoriar este livro, nomeadamente o nome das personagens, Jost, o miúdo autista, aluno de piano que é abandonado num ermo, Lisbeth Lorentz, a professora que o abandona e se mata posteriormente, Jaime Toledo, o escritor por onde circula a história, Graça Boyard, a actriz depressiva que representa Lisbeth e que traumatizada comete loucuras, Artur, o seu agente e amigo incondicional e naturalmente a Lia e a Beatriz, os anjos mútuos que nos enchem de paixão e sonho. (4)

Em tudo havia Beleza de Manuel Vilas, um livro que nos deixa a pensar de uma maneira absorvente e interessante mas, simultaneamente, assustadora, o que é a vida?, neste caso no relacionamento sentimental entre filhos e seus pais, a terra onde cresceu, os tios, os restantes familiares e conhecidos de passagem sem nunca deixarem algo que os marcasse profundamente. O que mais impressiona é a descrição nua e crua, do que sentimos, mostramos e manifestamos enquanto temos as pessoas que amamos ao nosso lado, vivas, e o que realmente ficou por fazer, dizer e amar quando elas partem. Eis um "refogado" complicado de reproduzir, mas tão claro e verdadeiro que nos arrepia...tanto, mas tanto que ficou por dizer.....(4)

Pensamento

Tenho ausências tuas para devolver.