A Rede de Alice de Kate Quinn, muito forte este livro de ficção histórica, diria inigualável, junta aprimoradamente as duas grandes guerras através de laços impressionantes, de personagens riquíssimas. O elo de ligação entre 1915-19 e 1947-49, é uma história composta de uma rede de espionagem inglesa, formada exclusivamente por mulheres, no norte da França na I grande guerra, com as traições, riscos, sofrimentos e mortes associadas a esse ingrato tipo de funções em teatro de guerra. Assim Lili, Violette e Marguerite, a "nossa" Evelyn, sofreram e foram atraiçoadas por um dos muitos colaboracionistas que havia em França. Mais tarde, por conhecimento de alguém (Charlie) que tenciona encontrar uma prima desaparecida na II grande guerra, junta-se a Eve, a Evelyn e vão protagonizar uma ficção poderosa, que acaba em vingança e em felicidade conjugal entre Charlie e Finn, um conhecimento que vai crecendo ao longo das páginas. Sentimentos de culpa e de amor muito fortes.

Um autor português a reler com certeza, surpresa total, irreverente, inequívoco, poderoso na escrita. Afonso Reis Cabral e o seu Pão de Açucar, genial. Porto, 2006, edíficio inacabado na Fernão de Magalhães, oficinas de S.José para acolher e reabilitar adolescentes em situação de risco familiar, eis os cenários. Estes items são essenciais para nos enquadrar num livro cru, nu, brilhante. Um grupo de miúdos desamparados, unidos pela vida ou pela falta dela, mais do que por laços de amizade e outro grupo de rapazes em que os instintos violentos e manifestação de força fazem parte do seu quotidiano, cruzam-se num drama, ao mesmo tempo carregado de emoção, desencontros, invejas, ciúmes, vergonhas e morte sofrida. Quem mata e porquê? Os representantes jovens de uma sociedade em que a homofobia e a intolerância ainda abundam. Quem morre? Um transexual cuja infância, também soberbamente descrita, foi madrasta, afundando-se na prostituição e no declínio físico e mental, no abandono. Livro carregado de dor e sofrimento. Desta história, baseada em factos verídicos, sabia-se o princípio e o fim, o meio está agora aqui.

Eu, reflectindo ........

Caros visitantes deste blogue que estou construindo com muito carinho e com um gozo difícil de descrever.

Muitos livros lidos com muito prazer, obviamente, uns mais que outros. Importa agora enquadrar o percurso que decidi seguir ao criar estas páginas. Inicialmente, identifiquei (1ª página) os autores de quem li diversos livros e que intitulo como os catalisadores da minha leitura, os que provocaram o gosto por ler tout court e, nomeadamente as suas diversas obras.

De seguida, da página 2 até aqui, constam os livros que pontuei com a nota máxima, estipulei o meu gosto de 0 a 5. Assim, até este ponto do blogue, consta a descrição dos meus autores preferidos e respectivos livros que li, seguindo-se os que foram por mim classificados com 5.

Agora irão seguir-se, todos os outros por ordem cronológica de leitura com uma breve sinopse e opinião e com a referência à pontuação que achei mais adequada. Estas pontuações, importante referir, são da minha exclusiva escolha e responsabilidade, e dependerão menos da qualidade do livro, mas sobretudo, do meu gosto pessoal, momento em que os li,  as emoções que me transmitiram na altura e que ficaram a BOLD na minha memória.

Vou intercalando com diversos pensamentos, sendo que após esta sequência de livros lidos, vou escrever acerca dos livros que vou lendo ao momento e outras referências que achar apropriadas ou que me surgem momentaneamente.

Obrigado!

Osso a Osso de Carol O'Connor, trata-se de um thriller que descreve uma trama macabra numa pequena povoação, em que inclui relações, emoções, desaparecimento, morte e devolução do corpo desaparecido, osso a osso.(3)

O Homem de São Petesburgo de Ken Follett, espionagem internacional com o objectivo de criar ou evitar a guerra, russos e britânicos envolvidos. (3)

Uma Terra Chamada Liberdade de Ken Follett, bem escrito e descritivo da vida nas minas britânicas quenado o trabalho era pouco menos que escravo. A paixão entre um rapaz pobre e revoltado e uma rapariga de família nobre mas que o defende e ama....(3)

Saber Perder de David Trueba, livro interessante que conta uma história relativa ao sucesso e posterior queda de um futebolista emigrante na Europa oriundo da América Latina. Paixão proibida, dinheiro a rodos, injustiças, empresários corruptos, relações por interesse.(4)

A Guerra que acabou com a Paz de Margaret MacMillan, livro histórico que aborda com pormenor e sagacidade todo o período que antecede a primeira guerra mundial. Os equilíbrios instáveis que garantiam a manutenção da paz até ao ponto em que escambou. (4)

O Primeiro Homem de Roma de Collen MacCullogh, a História de Roma contada de modo emocionante numa época de luta encarniçada pelo poder, aliás, algo constante na Roma antiga. Ou Sula ou Mário. Para quem adora História de Roma. (4)

Pensamento

Um dia, um homem transformou-se em pássaro e voou à volta da mulher que esperava que um pássaro se transformasse em homem.

Nuno Júdice

A Conspiração dos Tudor de CW Gortner, parte da história da Inglaterra contada de modo romanceado, mas que contempla uma era muito importante, o confronto entre Maria I a católica e a sua meia irmã, Isabel, que iria ser rainha, protestante.Todo o livro, contado na primeira pessoa, um espião ao serviço de Isabel, anda à roda dos inúmeros planos de traição levadas a cabo para tentar levar Isabel, filha de Ana Bolena, ao cadafalso, o que felizmente para a Inglaterra não iria acontecer, apesar das inúmeras vítimas que isso ocasionou. (3)

A Abadia dos Cem Pecados de Marcelo Simoni, história misteriosas de templos, religiões e todos os segredos e maldições próprias de outros tempos. (3)

Não se pode morar nos olhos de um gato de Ana Margarida Carvalho, livro pouco menos que brilhante, que descreve um naufrágio, em que diversas pessoas se encontram numa ilha deserta, pessoas essas que não se entendiam antes do evento e dificilmente se podem entender nessas circunstâncias limite. O relacionamento humano contado de maneira crua num ambiente hostil. (4)

Para onde vão os guarda-chuvas de Afonso Cruz, livro delicioso com final dramático, contado com uma sensibilidade e escrita de autêntico poema sobre o amor, a cultura e a amizade! (4)

Fechada para o Inverno de Jorn Lier Horst, crimes, estratagemas, Noruega....como se descobre e resolve um crime passo a passo! (3)

O regresso dos Lobos de Sarah Hall, uma história muito querida, descrita sobre a luta de uma mulher jovem com problemas pessoais mas com amor e entrega total à preservação dos lobos, na Inglaterra! (3)

Pensamento

O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo.

Clarice Lispector

Um Estranho Lugar para Morrer de Derek Miller, luta pela defesa da vida humana com e como reflexos do passado. Muitas penitências para fazer, muita consciência para limpar! Emoção até à última página! (3)

Uma Morte Conveniente de Sofie Sarabrandt, thriller que nos prende até ao fim, com o mesmo a ser inesperado, escrito de maneira rápida e nada cansativa. Um bom relaxante pera intervalar entre leituras mais intensas. (3)

A Queda de Berlim 1945 de Antony Beevor, a monstruosidade da guerra, as atrocidades nela cometidas, a desumanização, a estupidez, o fanatismo, a brutalidade, o potenciar exponencialmente o que há de pior no ser humano! Descrição da barbaridade que foi o fim da II guerra mundial de 39-45 em Berlim. O impensável aconteceu, como os seres humanos, por causa de um louco, tornaram a europa num inferno de morte, sofrimento e destruição. (4)

O Deus das pequenas coisas de Arundhati Roy, a saga de uma famíllia, o extra sensorial, a metáfora......culturas diferentes, choque de culturas. Um livro enigmático e altamente metafórico. Um apontamento, a sublime descrição de uma acto de fazer amor. (3)

Os Caçadores de Livros de Raphael Jerusalmy, interessante história romanceada da guerra que sempre existiu entre católicos, judeus e aristocratas sobre os livros e das verdades inscritas em pergaminhos, lutas incessantes entre Roma e Jerusalém, com uma personagem em destaque, François Villon. (3)

Neve Cega de Ragnar Jónasson, thriller passado na Islândia, o que só por si levaria nota positiva, simultaneamente, o jovem escritor leva-nos a percorrer a estória com um interesse em crescendo até ao habitual "surprise end". Suspense, crimes numa pequena cidade do norte da Islândia com a adequada comparação entre a vida na capital Reiquiavique e no local do drama, vivências de um estrano na província. (3)

 

Pensamento

Assim que se olharam, amaram-se; assim que se amaram, suspiraram; assim que suspiraram, perguntaram-se um ao outro o motivo; assim que descobriram o motivo, procuraram o remédio.

William Shakespeare

O Norte e Outros Contos de Zamiatine, primeiro livro que não consegui ler na totalidade. Bem escrito mas demasiadamente alegórico e metafórico. Li dois textos mais perceptíveis. Talvez a reler noutra altura. Foi uma sugestão, que às vezes sigo, do "Livro do Dia"  da TSF, Carlos Vaz Marques. (2)

Silêncio de Shusako Endo, a religião como tema central deste livro do excelente escritor católico japonês, em que se destacam pelo menos dois factos de fortíssimo impacto, a intolerância religiosa e a dúvida silenciosa! A intolerância existente no Japão devido à resistência da entrada do cristianismo na sua cultura, cultura essa deveras diferente. O mesmo se passaria caso o budismo viesse para o ocidente. Dessa intolerância sobressai uma brutalidade torturante e insana que nos leva a pensar que o ser humano é mesmo bárbaro. A dúvida resulta da crença versus descrença motivadas pelo silêncio de um deus perante tanta iniquidade e violência. Ele existe? Livro que foi reproduzido em filme por Martin Scorsese. (4)

O Discípulo de Hjorth & Rosenfeldt, um emocionante thriller com emoção a rodos, velocidade de narração impressionante. História de crimes horrendos cometidos por psicopatas entretanto descobertos e seguidos com muita emoção ao redor, laços entre investigadores muito fortes que colocam uma pressão sentimental e emocional no desenrolar do livro. (4)

Linhagem de Bravos de Emílio Miranda, livro que descreve de modo ligeiro e de fácil leitura, a heróica postura de um grupo de pessoas que, com a publicação de um foral de D. Dinis, conseguiram, mesmo perante imensas contrariedades, criar num outeiro o que será hoje a cidade de Vila Real. Recreação de uma ambiente histórico com várias personagens que ao longo do livro nos põem a par do que era a vida naqueles tempos, a precariedade da vivência, as doenças, as lutas, a submissão à religião. Lido com prazer. (3)

Escrito na Água de Paula Hawkins, um magnífico thriller na linha que nos tinha habituado, esta autora, com "A Rapariga no Comboio", muito suspense e personagens que se unem num drama de assassínios em série que passavam por suicídios. Uma lição a retirar do livro, sobretudo no que se refere à continuação dos maus tratos infligidos às mulheres, por desde sempre, se supor que se tratam de seres que existem para servir e de inferioridade intelectual. (4)

Isabel de Aragão de Isabel Stilwell, livro histórico no que diz respeito a uma das épocas mais interessantes da primeira dinastia portuguesa. A vida da intitulada Rainha Santa, como foi denominada, contada com os pormenores reais e ficcionados, desde a sua criação em Aragão pelo seu avô, Jaime I de Aragão, o seu casamento com doze anos com D. Dinis de Portugal, a sua vida como rainha, a amizade incontornável com Vataça, princesa binzantina, com o seu irmão, Jaime II de Aragão, as lutas com Castela, a educação dos seus filhos, Afonso e Constança, as suas peregrinações, as suas intervenções pela paz no seu reino, sobretudo nas infelizes guerra entre o marido e filho por causa dos filhos ilegítimos do rei. Mas sobretudo e acima de tudo, a entrega incondicional aos mais desfavorecidos sempre possuída de uma fé inabalável. (4)

Emergência Climática......

O Judas de Leonardo de Leo Perutz, descrição deveras interessante da vida em Milão e como numa trama amorosa perfeitamente normal, tipo drama, apareceu no final do livro a figura perfeita para retratar Judas na Última Ceia de Leonardo da Vinci. Busca incansável  da perfeição por parte de um mestre, não só em pintura mas acima de tudo em ciências e matemática. Também não esquecer uma superficial descrição do momento histórico vivido na passagem do séc.XV para o XVI e como era a vida numa metrópole como Milão. (3)

A Guerra das Rosas de Conn Iggulden, interessante e agradavelmente escrito sobre uma época da história de Inglaterra, que adoro, que antecedeu em meio século o reinado da Rainha Isabel I. Esta fase foi pobre, sangrenta, um rei fraco e doente, intrigas palacianas, mortes e traições. Também as revoltas de um povo sufocado em impostos e com perdas de territórios em França. Fiquei com a sensação que este livro me ajudou a compreender melhor os piores anos de Inglaterra, onde perdeu influência antes de a voltar a ganhar, mais tarde. (3)

Crime num Quarto Fechado de Hans Olav Lahlum, devido ao seu suspense prendeu-me as atenções, ligações intensas entre as personagens que constituem a história, localização fechada da trama, descrição simples mas pormenorizada das investigações policiais com mentes brilhantes a seguir pistas e raciocínios dos potenciais criminosos e, obviamente, final surpreendente. (4)

O Som do Silêncio de Rosamund Lupton, um thriller que nos cola ao livro do princípio ao fim, muito interessante os passos que vai dando ao longo das páginas. Aborda e alerta para diversos temas importantes, tais como, o ambiente, a surdez pediátrica, a neve e o frio brutal a ela associado no Alasca. (3) 

Orgulho e Preconceito de Jane Austen, a serenidade, a ternura deste livro é tocante! Romance numa época victoriana contado de modo ímpar, com uma lúcida descrição sobre as diferenças sociais, a rebeldia da juventude, o bom senso e o amor presentes! Muito aprazível! (4) 

Tarass Bulba de NIkolai Gogol, história de uma das maiores e curiosas civilizações do mundo oriental, os Cossacos! História de sangue, vingança, lutas religiosas que são quase sempre o motivo para combates sangrentos, de uma dureza indescrítivel....o autor tem cuidado de não contar ao mais ínfimo pormenor as torturas barbaramente infligidas de parte a parte. Partindo de uma família de cossacos (russos ortodoxos) parte-se para um relato de coragem, bravura, crueldade, descrito por um grande escritor. (4)

 

Pensamento

Nenhum de nós sabe o que existe e o que não existe. Vivemos de palavras. Vamos até à cova com palavras. Submetem-nos, subjugam-nos. Pesam toneladas, têm a espessura de montanhas. São as palavras que nos contêm, são as palavras que nos conduzem.

Raúl Brandão, in Húmus

Os Pilares da Terra de Ken Follett, superior em termos literários aos anteriores livros que li deste autor, quase suficiente para me ser tentado a ler mais - história de Inglaterra nos anos 1100, triste época, cheia de pobreza, desigualdades, guerra, lutas, indiferença sobre o sofrimento, castelos, igrejas, bruxarias inventadas, violências....para conseguir favores, muitas vezes efémeros. Personagens marcantes, Tom, Alfred, Elenne, Agnes, Martha, William,....e naturalmente, Philipe o monge, prior que marca a história com a sua intelegência, sorte e fé. (4) 

Os Bárbaros do Clube de Autores, reestruturar a história, alterar os factos de pensarmos que a civillização estava só de um lado, Roma! E que os povos vindos de várias partes do continente eram bárbaros na maneira como lidavam com os romanos. Nem uns nem outros eram mais humanos ou desumanos que os outros, apenas um império subjugou e outros povos combateram de maneira brutal esse poder ditatorial. Uma versão atenta da história entre três séculos antes de Cristo e cinco após. A implosão do império romano. (4)

Os Herdeiros da Terra de Ildefonso Falcones, um seguimento do anterior livro, A Catedral do Mar, vida na idade média em Barcelona, Catalunha. Amizade, pobreza aviltante, riqueza com soberba, conflito religioso com martírios e morte constantemente associadas. O amor, a traição, o abandono discricionário a que as pessoas sem bens eram sujeitas. Igualmente a continuação dos laços familiares de Arnau, o seu filho Bernat, o protegido Hugo Llors, a filha deste, Mercé, a escrava liberta, Caterina, os judeus conversos..enfim uma leitura carregada de paixão. Destacar neste livro uma descrição pormenorizada da feitura do vinho, as vindimas, cepas, mostos....fazia parte da vida de Hugo. (4)

O Homem que perseguia o Tempo de Diane Settefield, asustadoramente belo, leitura torneada de imagens figurativas e entrecruzadas com aspectos assustadores em como alguém pode viver com tantas perdas, perdas essas aliadas sub-conscientemente a um acontecimento do passado! A obsessão será esse o termo, que leva à loucura e morte. (4) 

Agosto de Rubem Sousa, primeiro livro deste autor, gostei, frio, directo, contundente, expressivo, audaz, sem tempero nas palavras, irónico, romancista brasileiro sem papas na língua. Romance passado durante o último consulado como presidente de Getúlio Vargas, descreve o caminho para o fim do seu governo e da sua vida, suicidou-se, devido às convulsões em que estava envolvido o Brasil e os brasileiros. (4)

Nada de Jane Letter, livro interessante, ligeiro ao princípio com uma evolução dramática brutal, começando no significado da vida ou na falta dele, na cabeça dos adolescentes, acabando por demonstrar de forma desconexa mas humana ou desumana que, afinal pode haver significado na vida mas de uma forma violenta e auto destrutiva. (3)

 

Pensamento

Se soubesse como gosto das suas cheganças, você chegaria correndo todo o dia.

Chico Buarque

Gaspar, Baltasar & Belchior de Michel Tournier, livro histórico com interesse sobre o que se terá passado há mais de 2000 anos na altura do nascimento de Cristo e o eventual aparecimento de três reis magos mais um, Taor, que talvez, para este escritor tivesse sido o mais crente. Místico e Religioso. (3) 

Os Vikings em Portugal e na Galiza de Hélio Pires, eis um livro sobre parte da história menos conhecida e alvo de estudo e investigação. Nota-se um esforço, dedicação e talvez muito tempo (a bibliografia usada é gigantesca) de levar os leitores a conhecerem essa antiguidade e os feitos desse povo escandinavo e inclusivé tirar da mente alguns preconceitos arreigados. Mas fica tudo na dúvida, não há certezas concludentes sobre nada, suposições muitas, hipóteses muitas, mas provas físicas ou manuscritas de modo marcante, nenhuma. (3) 

O Seminarista de Rubem Fonseca, excelente, muito bem conseguido no esquema escolhido para contar um policial excitante e brutal em termos de violência física e verbal. Inclui uma inesperada história de amor pelo meio. Arrebatadamente criminoso num Brasil onde se paga tudo para matar. Muito bem escrito e deliciosamente lido até um final diferente mas não inesperado por completo. (4) 

A Aldeia de William Faulkner, de um autor que nunca tinha lido, excelente enredo, passado numa aldeia, a vida dos aldeãos e o que origina essa proximidade, o bem e o mal que ela produz. O modo de escrever é que torna a leitura e respectiva compreensão mais difíceis, deverá ser relido. O cenário da história tem como fundo, uma aldeia, com os problemas inerentes a esse facto, pobreza, ambição, tricas e negociatas, isolada do mundo exterior devido à enorme falta de mobilidade existente na época. (4)

Despertar de Stephen King, um pouco abaixo da expectativa criada com o renome deste autor, mas de qualquer modo, em três dias li este livro arrepiante, irreal, mas que repassa para o papel situações que no dia a dia, parecendo irreais acabam por acontecer, assassínios seguidos de suicídios por motivos que nunca são óbvios. A loucura levada ao extremo na busca de tornar o impossível em possível. (3) 

A Sede de Jo Nesbo, um policial nórdico de prender a respiração, suspense do príncipio ao fim e sempre em crescendo. Violento, cru, frio, mas sem dúvida nenhuma, descrevendo até onde pode chegar a maldade e o sadismo humanos para provocar o sofrimento e por outro lado como, com intelegência, perspicácia e tenacidade se podem desvendar esses crimes horrendos. (4) 

 

 

 

Pensamento

Há pessoas que têm medo da mudança, eu tenho medo é que as coisas não mudem.

A Rapariga no Gelo de Robert Bryndza, policial ao nível dos escritos por Camilla Lackberg, serve-me sempre de pêndulo de comparação, não tão perfeito na realidade, mas com uma personagem principal bastante chamativa pelo modo como não se acomoda ao poder, apesar do passado dramático que viveu em que o seu marido faleceu numa operação policial por ela chefiada. Esta história de crimes, passada em Londres, prende-nos até ao fim, que tem, como mandam as regras, um final surpreendente e de revirar o estômago de quem o descobre e de nos deixar boquiabertos. (4)

Irmão de Gelo de Alícia Kopf, diferente, desabitual, forte sem ser bruto, romance aos soluços, ou seja, cenas diversas e aparentemente sem ligação entre elas, sucedem-se ao longo do livro, tendo, sem dúvida, um fio condutor e comum, o gelo, o gelo físico e o seu fascínio (chegada aos polos), o gelo nas relações (entre companheiros, família e desconhecidos), o gelo que é o seu irmão autista e as dificuldades daí inerentes, o gelo fino em que se traduz a nossa vida e o modo como nos adaptamos e sobrevivemos ou não. À Islândia é dedicada uma parte do livro que nos ajuda a compreender também o diferente convívio com a nostalgia no isolamento que a natureza nos proporciona. (4)

Águas Profundas de Robert Bryndza, muito idêntico ao anterior deste autor, "A Rapariga do Gelo", história alucinante, sem conseguir fazer uma pausa na leitura e apesar de todas as suposições que vamos criando ao londo do desenrolar da trama, o final é deveras surpreendente. As personagens, Erika Foster, Moss e Petterson ficam na retina e na memória, continuam as parecenças com os livros de Camilla, dado que alia também a vida familiar dos principais protagonistas. Camilla Lackberg é no entanto, para mim, superior. (4) 

A Filha de Anna Giurickovic Dato, contangiante, tal o drama que aborda, família normal, feliz, desafogada, pai, mãe, filha e avó paterna. Até aqui tudo bem, só que existe uma nuvem negra que quase se repete no fim, o desejo sexual do pai pela filha contra o qual ele lutará mas é mais forte que ele. Traumatiza-a, vence-a, seduz a filha de modo infame, doentio....estamos a falar de uma pessoa culta e evoluída....final dramático, fim do pai por suposto acidente ou suicídio, mas não, foi Maria (Filha) que o matou, confessa-o no fim, tremendo de vergonha, à sua mãe que impede que os impulsos que tanto traumatizaram a sua filha se repetissem de novo com o novo companheiro! (4)

A Padeira de Aljubarrota de Maria João Lopo de Carvalho, simplista, ligeiro que entrecruza a história de Portugal entre os anos 1380/85, altura do reinado de D. Fernando e D. Leonor Teles, considerada a traidora com o Conde Andeiro, e a lenda da padeira. Os corredores das cortes e a simplicidade, pobreza e aventura de Brites de Almeida em paralelo. Curiosa também, a descrição de mestre de Avis e de D. Nuno Álvares Pereira, bem como a estória de amor platónico entre D. Beatriz e o escudeiro Lopo. (3)

 No Jardim do Ogre de Leila Slimani, ninfomania, uma doença, a loucura, o desespero, a perda de todos os sentidos, a perda da racionalidade, o fim, o definhar das pessoas e a destruição do que a rodeia! Bem escrito, lido num sopro, alucinante e sexualmente violento. Contado com os pormenores mais mórbidos do que se passa na mente e no corpo. (3)

 

Pensamento

Num deserto sem água, numa noite sem lua, num país sem nome ou numa terra nua.

Por maior que seja o desespero, nenhuma ausência é mais funda que a tua.